Imagem, tempo e palavra | Articulação com Palimpsesto na Série Cartografia dos Restos
- Vanessa CTReis

- há 5 dias
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No ano de 2025 introduzi em meu processo criativo a técnica do transfer. Tomei essa decisão como resultado das pesquisas com a imagem, o tempo e a palavra onde o feminino surge como uma dobra que revela o avesso daquilo que resta, norteando o eixo do trabalho. O resto, as marcas, os traços que insistem em existir.
Instigada pelas leituras, pelo processo e dinâmica, pude perceber que a série que se revelava, Cartografia dos Restos, se articulava com a lógica do palimpsesto naquilo que se raspa para escrever de novo, entendido não apenas como superfície reescrita, mas como metáfora para a forma como o tempo se acumula, apaga e reescreve marcas, pois em meu trabalho cada imagem é tomada mais que uma simples camada: é um rastro que persiste mesmo quando aparentemente apagado.

O palimpsesto é em essência, uma escrita sobre outra escrita, nunca totalmente nova, nunca completamente desprendida do que foi. Da mesma forma, a série não apresenta imagens isoladas e sim, camadas de memória visual construídas, desfeitas e reconstruídas. São imagens que carregam a presença do que foi retirado, deslocado, esgarçado.
Em minhas criações artísticas o gesto de recortar, sobrepor, reconstruir funciona como uma forma contemporânea de se inscrever traços. Cada fragmento incorpora marcas anteriores, restos que não desaparecem, mas se tornam ativos e atuantes na configuração do trabalho.
Assim, podemos pensar que ao mapear restos, a obra cartografa o que resiste ao esquecimento.
É uma cartografia não de territórios geográficos, mas de sobreposições de sentido. Mapa e palimpsesto se encontram porque ambos tratam da tentativa de organizar camadas.
Camadas de tempo, de gesto, de memória, de discurso.
Por Vanessa CTReis



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